As constelações familiares, inicialmente desenvolvidas por Bert Hellinger, rapidamente se tornaram uma abordagem poderosa para trazer à luz dinâmicas ocultas nos sistemas familiares, buscando harmonia e resolução de conflitos. No entanto, ao longo dos anos, essa metodologia evoluiu para ser aplicada numa variedade de contextos, dando origem a novas vertentes das chamadas “constelações sistémicas”. Essas variações estendem-se a áreas como organizações, educação, saúde e até mesmo ao sistema judicial.

Neste artigo, exploraremos os principais tipos de constelações sistémicas, oferecendo uma visão geral de como essa abordagem se expandiu para além do ambiente familiar, ajudando a resolver questões complexas nas diferentes áreas da vida.

1. Constelações Familiares

As constelações familiares são o ponto de partida de todo o movimento sistémico. Bert Hellinger desenvolveu essa metodologia nos anos 1980, combinando conceitos da psicanálise, terapia familiar e elementos da psicologia fenomenológica e existencial. Nas constelações familiares, a ideia central é que cada família é um sistema interligado, no qual todos os membros, vivos ou falecidos, estão conectados por uma vinculação. Quando um membro da família sofre, muitas vezes é devido a um desequilíbrio ou “emaranhamento” nas relações familiares, o que pode estar ligado a questões de gerações anteriores.

Através de uma constelação, essas dinâmicas ocultas são trazidas à tona, permitindo que os participantes vejam e sintam essas conexões de maneira profunda, levando à cura e à reconciliação dentro do sistema familiar.

2. Constelações Organizacionais

As constelações organizacionais aplicam os mesmos princípios das constelações familiares, mas focam nas dinâmicas dentro de empresas e organizações. Desenvolvidas principalmente por Gunthard Weber e outros pioneiros, essa variação ajuda a identificar padrões ocultos que podem estar a impactar o desempenho, a comunicação ou o crescimento de uma empresa.

Problemas como conflitos internos, mudanças de gestão, sucessões mal resolvidas ou baixa produtividade muitas vezes têm raízes sistémicas, e as constelações organizacionais permitem que esses problemas sejam visualizados num nível mais profundo. A partir disso, podem ser encontradas soluções para restaurar a harmonia e o alinhamento dentro da organização.

3. Constelações Estruturais

As constelações estruturais foram desenvolvidas por Matthias Varga von Kibéd e Insa Sparrer, que expandiram os princípios das constelações para um nível mais abstrato e focado na estrutura dos sistemas. Elas não se limitam às relações familiares ou organizacionais, mas podem ser usadas para investigar quase qualquer questão, seja ela pessoal, profissional ou de negócios.

Em vez de trabalhar diretamente com pessoas ou com as suas representações, as constelações estruturais focam nos componentes ou “elementos” envolvidos no problema — como metas, recursos ou obstáculos — ajudando a mapear e reorganizar essas interações para criar um sistema mais eficaz.

4. Constelações Pedagógicas

As constelações pedagógicas são uma variação relativamente recente e são aplicadas no contexto educacional. Desenvolvidas por Marianne Franke-Gricksch, elas focam em dinâmicas dentro das escolas, envolvendo alunos, professores, pais e a instituição escolar como um todo.

Essa abordagem ajuda a identificar padrões que podem estar a impedir a aprendizagem ou a criar desarmonia no ambiente escolar, como dificuldades de comportamento, bloqueios emocionais ou conflitos entre alunos e professores. A constelação pedagógica proporciona uma visão ampliada de como as relações sistémicas dentro da escola influenciam o desenvolvimento e o sucesso dos alunos.

5. Constelações Judiciais

O Direito Sistémico, aplicado no contexto jurídico, foi amplamente difundido no Brasil pelo juiz Sami Storch, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), que é pioneiro na utilização das constelações familiares em processos judiciais. Inspirado pela abordagem de Bert Hellinger e pelas ideias de Albrecht Mahr, Storch passou a aplicar os princípios das constelações para mediar conflitos judiciais de maneira mais empática e profunda. Essa metodologia procura trazer à tona as dinâmicas sistémicas e familiares subjacentes aos conflitos legais, permitindo que as partes envolvidas possam compreender as influências ocultas que moldam o litígio. 

Estas constelações são especialmente úteis em processos de mediação e resolução de conflitos, pois ajudam as partes envolvidas a reconhecer as influências familiares, emocionais e sistémicas que podem estar a afetar a sua capacidade de encontrar soluções. Assim, as constelações judiciais abrem espaço para um processo de resolução mais consciente e empático.

6. Constelações no Âmbito da Saúde e Doença

Bert Hellinger já havia introduzido a ideia de que problemas de saúde podem estar ligados a exclusões no sistema familiar. No entanto, as constelações no âmbito da saúde e doença foram mais desenvolvidas por profissionais como Stephan Hausner, que começou a explorar a ligação entre padrões familiares e doenças físicas ou psicológicas.

Esse tipo de constelação ajuda a revelar como certos padrões herdados de gerações anteriores podem se manifestar na forma de doenças crónicas, dores inexplicáveis ou outros sintomas. A abordagem visa trazer à tona os aspectos inconscientes e familiares que podem estar a  contribuir para a doença, permitindo que os pacientes encontrem novas formas de cura ao restabelecer o equilíbrio no sistema familiar.

Conclusão

As constelações sistémicas representam uma evolução poderosa da abordagem original de Bert Hellinger, adaptando os seus princípios para uma ampla gama de contextos além da família. Através dessas variações — organizacionais, estruturais, pedagógicas, judiciais e no âmbito da saúde — as constelações continuam a ser uma ferramenta valiosa para revelar e transformar dinâmicas ocultas, promovendo harmonia e cura em todos os tipos de sistemas.

Se és um terapeuta, educador, profissional de RH ou apenas alguém que procura soluções para questões complexas na tua vida, as constelações sistémicas oferecem uma abordagem profunda para entender as interconexões que moldam os nossos comportamentos, relações e resultados.